AUTOGESTÃO NA PANDEMIA


Os territórios se organizam, criam, constroem, respiram e contam nas suas próprias histórias. As histórias de quem nunca teve o privilégio de parar.

Durante a pandemia, não é apenas o terrível cenário da Covid-19 que impacta o cotidiano das pessoas. Além dos atrasos nas vacinas, a dificuldade em obter o auxílio emergencial, o desemprego, a escassez e a violência, milhões de pessoas se encontram em situação de fome e insegurança alimentar atualmente no Brasil. A luta diária contra um vírus invisível deu margem ao negacionismo e ao descaso, o que afetou principalmente os territórios periféricos e favelados do campo e da cidade, a população negra, os povos indígenas e outras comunidades tradicionais. Através de alternativas populares e estratégias autogestionárias, os territórios resistem, enfrentam e transformam essa realidade.

Enquanto a mídia hegemônica tradicional discursava sobre a nova realidade nos veículos de massa, foram os cartazes, grupos nas redes sociais, podcasts nas ruas e recados nos portões que fizeram a conscientização com a linguagem que realmente comunica com a periferia. Enquanto faltava auxílio emergencial e suporte por parte do governo, foram as doações de alimentos e kits de higiene, cozinhas solidárias, arrecadações e distribuições de cestas básicas que colocaram comida nas mesas de tantas famílias.

O direito à cidade e a luta por terra e território se tornaram ainda mais urgentes em tempos de violações ainda maiores contra a vida e o acesso à saúde. As práticas e os saberes ancestrais da agroecologia e agricultura urbana pulsam, resistem e transformam territórios através da soberania alimentar. A comunicação, mobilização e educação populares igualam o diálogo entre jovens, mulheres, homens, crianças e idosos, como uma ferramenta de luta na disputa das narrativas que são contadas. Em tempos de uma política de morte, descaso e negligência, a autogestão, os movimentos sociais e a coletividade reinventaram a vida a cada dia. Os territórios se organizam, criam, constroem, respiram e contam as suas próprias histórias. As histórias de quem nunca teve o privilégio de parar.