A 8ª edição do Festival Internacional Pão e Tinta aconteceu dos dias 6 a 8 de setembro de 2019 na comunidade do Bode, no bairro da Pina, em Recife (PE). Com o tema “Corpos em Alvo”, o evento deste ano, realizado pelo Coletivo Pão e Tinta, tinha como objetivo refletir e dar visibilidade às consequências do racismo para a juventude de favelas e periferias brasileiras. A atividade contou ainda com o apoio de organizações como Escola de Ativismo, Fase, Action Aid e Instituto Pacs.
No atual cenário de violência extrema, os jovens negros e periféricos são os mais afetados em todo o país. De acordo com o Atlas da Violência 2019, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, lançado em junho deste ano, os negros e negras correspondem a 75% das vítimas de homicídio no Brasil. Segundo Stilo Santos, acelerador social, agitador cultural e um dos idealizadores e organizadores do festival, o intuito do evento foi debater sobre esses corpos que estão em alvo todos os dias. “Pra gente, o Pão e Tinta é um grande encontro de amigos e amigas e pessoas que estão dispostas a fazer uma política de diálogo e que realmente mude a vida das pessoas”, conta.
A programação contou com atividades culturais e artísticas em diversos pontos da comunidade do Bode, como shows, ações sociais com crianças e adolescentes, cortes de cabelo, trancistas, atrações teatrais e rodas de conversa, recebendo, ao todo, mais de 150 artistas nos 3 dias. Além disso, foram feitos grafites em paredes de toda a região, elaborados a partir de curadorias coletivas.
Para Juliana Vitorino, integrante da mandata coletiva das JUNTAS e colaboradora do festival, o evento, que tem cerca de 3 meses de preparação, traz inúmeros benefícios para a população local. “O Pão e Tinta movimenta a periferia do Pina, que sofre com a especulação imobiliária e que é um dos metros quadrados mais caros de Recife. Ter um momento como esse, com arte, educação popular e na rua, é uma forma não só de resistência, mas de girar a economia da favela”, afirma.
O racismo, o machismo e a militarização também foram alguns pontos abordados durante os diversos debates ocorridos ao longo do festival. Para Saney Souza, da Coletiva Popular de Mulheres da Zona Oeste do Rio de Janeiro, há muito em comum entre as resistências da população negra de diferentes locais. “Eu venho do Rio de Janeiro, onde várias crianças e jovens negros foram assassinados em agosto por causa dessa política racista do governador que elegeram. A gente não é só a gente. Nós temos que dar sequência no que já fizeram. Amanhã eu não sei se estou aqui, mas temos que formar pessoas para lutarem por nós”, afirmou em sua fala durante a roda de conversa no segundo dia de evento.
O Festival Pão e Tinta foi escolhido entre os movimentos sociais, grupos e coletivos que participam do Curso Autogestão, como a atividade principal de intercâmbio entre os participantes. A formação, promovida anualmente pelo Instituto Pacs, recebe indígenas, agricultores(as), integrantes de coletivos e movimentos de luta por moradia e pela defesa do direito de morar e plantar para refletir e trocar sobre metodologias autogestionárias desde seus territórios.