O Plano Popular Alternativo ao Desenvolvimento (PPAD) é composto de experiências e ações que procuram ser coerentes com valores sociais comuns, como o enraizamento territorializado e a autonomia coletiva como horizonte e prática. Territórios são aqui considerados não de maneira estática, mas como espaço sociopolítico de disputa por autonomia frente à organização socialmente orientada pelo mercado. São também o chão onde se constróem os modos alternativos de vida, práticas que ultrapassam valores do viver hierárquico e não-autônomo.
Nossas práticas reinventam a continuidade: o “novo” vêm de longe, contínuo pois ancestral. Baseando-nos nas experiências históricas de aquilombamento, aldeiamento, comunitarismo, assentamento, coletivização, cooperativização, comunas territoriais (dentre outros), somos indissociáveis do território, da moradia e da produção do nosso viver. A territorialidade nos constitui encarnando-se em nosso corpo como forma de encantamento da vida: somos sujeitos da transformação histórica e social.
O Plano Popular de Alternativas ao Desenvolvimento é um instrumento que visa potencializar, subsidiar, visibilizar e articular alternativas populares e territoriais já existentes. Tais alternativas pautam, de baixo para cima, práticas e visões de mundo desde os seus territórios, arraigadas nas potencialidades de suas formas de vida, relações sociais, econômicas, políticas e culturais. O projeto que originou a ideia de um Plano justificava que o “questionamento da analogia entre desenvolvimento e crescimento econômico deve[ria] ocorrer a partir das práticas populares vigentes, mediante processos de construção de conhecimento crítico que subsidie ações de incidência pelas redes locais” (PACS, 2015). A proposta se desdobraria (e se desdobrou) em três aspectos principais: inserção e acompanhamento das experiências locais, formação continuada com caráter de aglutinação em torno do tema, e construção do projeto/plano popular de alternativas ao desenvolvimento. Os planos e projetos poderiam abarcar um ou mais territórios e um ou mais eixos de atuação, a depender da maneira como o processo se desenrolasse. Nestes últimos seis anos, o espaço de formação continuada se deu nos Cursos de Autogestão realizados anualmente de 2015 a 2020. Fortalecendo-se em cada ano, o curso foi tomando densidade e permitindo um aprofundamento do debate em torno das práticas e reflexões sobre as alternativas. Neste sentido, os eixos políticos dos cursos ganharam em diversidade e a centralidade do tema da “autogestão” foi amplificada a partir das práticas, visões e auto-definições referenciadas nas experiências concretas.