Jornada Latino-Americana e Caribenha de Integração dos Povos

Nos dias 22 e 23 de fevereiro de 2024, 4 mil ativistas e líderes de 53 organizações sindicais, populares, ambientalistas, feministas, estudantis e profissionais de 26 países reuniram-se no Brasil, na cidade de Foz do Iguaçu, na Tríplice Fronteira com Argentina e Paraguai, para realizar a Jornada Latino-Americana e Caribenha de Integração dos Povos. Foi um encontro energizante - apesar dos 40 graus de calor - onde a mística e a solidariedade internacionalista, especialmente com Palestina, Cuba e Venezuela, ocuparam um lugar central juntamente com a troca de experiências, o debate de estratégias e iniciativas no contexto das profundas crises que os povos do mundo atravessam, e o diálogo com altos representantes de governos e partidos na região.

Foi o maior encontro desse tipo desde o início da pandemia, e o primeiro a unir em sua convocação a Jornada Continental pela Democracia e contra o Neoliberalismo, na qual a JS/A participou desde sua criação em 2015, 10 anos após o enterro do Acordo de Livre Comércio das Américas (ALCA), junto com outros espaços de articulação como Movimentos ALBA e a Assembleia Internacional dos Povos.

A declaração final da Jornada, emitida como uma Carta aos povos pela integração da América Latina e do Caribe, convoca a "retomar o processo de encontro e unidade para construir uma agenda comum para a integração dos povos como um espaço possível de convergência, convivência e construção de iniciativas que ofereçam respostas reais aos problemas de nossos povos".

Reafirma o compromisso de defender e construir territórios soberanos e livres onde os povos possam viver felizes e dignamente, de continuar mobilizando em datas comuns ao longo do ano em defesa dos direitos e da justiça ambiental, social, econômica e de gênero, e de nos reencontrarmos em 2025, no Brasil, em uma grande Cúpula dos Povos no contexto da COP30.

Nas intervenções nos plenários e mesas de trabalho, representantes dos diversos movimentos e redes convocantes, bem como de partidos, parlamentos e governos - incluindo a vice-presidente da Colômbia, Francia Márquez -, compartilharam perspectivas sobre a crise sistêmica do capitalismo e as ameaças à paz e à soberania, os desafios da integração, o avanço da extrema direita, os ataques à justiça ambiental, ao trabalho e a todos os direitos sociais, a hegemonia cultural do capital e a crise de valores, a democracia e a soberania.

"Nossa integração regional deve assumir a descolonização do poder e da cultura e construir um contra-poder de baixo para cima, dos povos e dos territórios, enraizado no respeito aos processos históricos, à memória, à ancestralidade, aos corpos diversos e rebeldes", expressa a Carta aos Povos. "Devemos construir e posicionar uma narrativa contra-hegemônica fundamentada na reciprocidade, na complementaridade, no coletivo e na consciência de ser natureza", aponta, para avançar em uma integração regional que "também deve responder à construção coletiva da transição justa, popular e feminista".

Jubileu Sul/Américas na Jornada Da JS/A, participaram da Jornada companheiras e companheiros do Brasil, Paraguai, Argentina, Peru, Trinidad e Tobago e Cuba, alguns como parte de outras articulações, como a Marcha Mundial das Mulheres, o Capítulo Cubano da Jornada Continental e Movimentos ALBA/AIP. Também participaram conosco líderes dos povos Ava Guaraní do Brasil e do Paraguai, com os quais a JS/Cono Sur vem articulando e apoiando em sua demanda por reparação como afetados pela construção da represa de Itaipu, há 50 anos. A Jornada LA/C foi o cenário para um novo encontro deles com o governo brasileiro, facilitado pela JS Brasil, assim como com as autoridades da Itaipu Binacional, além do apoio expresso na declaração final.

A JS/A não fez parte, como tal, do Comitê organizador da Jornada LA/C, mas como integrante da Jornada Continental, em cuja capacidade colaborou a partir da Secretaria Regional, na Comissão de Conteúdo e Metodologia.

Durante a Jornada, duas companheiras participaram como palestrantes representando a rede Jubileu Sul/Américas. Nas mesas de "diagnóstico" do primeiro dia, Beverly (Diálogo 2000 Argentina) falou sobre "O avanço da Extrema Direita e as Ameaças à Democracia", e nas mesas "propositivas" do segundo dia, Sandra (Jubileu Sul Brasil) falou na mesa sobre "Trabalho digno como centro do desenvolvimento sustentável. Produção, cooperação e comércio justo para a soberania". Ambas enfatizaram a dívida e as instituições financeiras internacionais (IFIs) como ferramentas centrais do capital financeiro na geração das crises que vivemos e a necessidade de fortalecer as ações de denúncia e resistência a esse respeito, e a partir do Jubileu Sul Brasil foi amplamente divulgado um novo folheto sobre o G20, seus impactos em nossas vidas e sua próxima reunião no Rio.

A ação da JS/A também foi fundamental para possibilitar uma voz no plenário dos movimentos populares do Haiti, com a leitura por Kandis (OWTU, Trinidad e Tobago) do texto enviado por Camille (PAPDA, Haiti), e o compromisso de solidariedade e a rejeição à intervenção militar incluída na Carta aos Povos.

 

Conclusões e Acompanhamento

Retomar, neste contexto, o intercâmbio presencial entre um espaço significativo de organizações sindicais e populares do continente foi uma grande conquista, assim como a busca por estabelecer uma prática de diálogo articulada e sistemática com os governos. Não faltaram disputas ou conflitos de certa magnitude - incluindo as declarações do ex-presidente do Uruguai e protagonista do evento, Pepe Mujica, sobre o presidente venezuelano Maduro, dias antes do evento - mas o positivo é que conseguimos direcionar e deixar aberto um caminho de acompanhamento, com a proposta concreta de reconstruir uma grande Cúpula dos Povos no âmbito da COP30 no Brasil, em dezembro de 2025 (ainda a ser confirmado se o local será Belém do Pará ou outro).

Em relação a essa construção futura, na primeira reunião de avaliação da Jornada Continental pela Democracia e contra o Neoliberalismo, logo após o término do evento, destacamos a necessidade de continuar ampliando o espectro de movimentos e redes participantes, buscando incorporar, especialmente, uma maior presença e protagonismo de povos originários e afrodescendentes.

Da mesma forma, embora a Carta aos Povos reflita elementos diagnósticos e propositivos que ressoam com nossa perspectiva da JS/A, ainda é notável a recusa em incorporar a problemática da Dívida como eixo central nos debates e conclusões. Mesmo com múltiplas referências nas mesas de trabalho, tanto em exposições quanto por parte dos participantes, nos textos finais só pode ser encontrada uma breve menção à necessidade de "enfrentar a financeirização da vida e o endividamento", em um documento de propostas apresentado no Atividade Política final.

Sobre isso, na reunião de avaliação da Jornada Continental, enfatizamos a centralidade de sua inclusão nesta conjuntura, principalmente em relação ao retrocesso dos direitos e ao avanço da financeirização e privatização da natureza e da economia digital. Propusemos a possibilidade de realizar atividades a esse respeito no contexto da Cúpula do G20 em novembro no Rio e do 80º aniversário do FMI e do BM, proposta que também foi bem recebida no Diálogo prévio à Jornada, em 21/2, organizado pelo Frente brasileira contra o TLC União Europeia-Mercosul em preparação para os próximos encontros do G20, os BRICS e a COP30. Os Amigos da Terra LA/C e a Escola feminista Berta Cáceres mostraram particular interesse, cujas responsáveis, Sandra Moran e Cindy Wiesner, solicitaram informações e material formativo no contexto dos 80 anos.

Consideramos importante, nesta conjuntura, que a JS/A fortaleça sua participação no espaço de articulação que é a Jornada Continental, e na construção desta próxima etapa que levará à realização de uma Cúpula dos Povos em dezembro de 2025, estabelecendo objetivos concretos em relação ao protagonismo e visibilidade da rede, bem como em relação às campanhas para fortalecer a resistência ao pagamento da dívida e à expansão das IFIs e seu papel na promoção da "economia verde", e avançar na construção de alternativas para a vida com base na reparação das dívidas com os povos e a natureza.

Com informações de Beverly Keene e contribuições de outros membros da JS/A