O Instituto Pacs promoveu um intercâmbio em Belo Horizonte (MG), em agosto de 2024, para viabilizar a troca de experiências e o estreitamento de laços entre as organizações que compõem a Caravana Contra os Racismos Religiosos. O babalorixá do Terreiro das Salinas – Ilê Axé Ayabá Omi, Pai Lívio, saiu de Pernambuco rumo à capital mineira, junto com a ativista que idealizou e preside a organização não governamental (ONG) TPM – Todas Para o Mar, Nuala Costa. Do Rio de Janeiro, partiu a equipe do Pacs – a coordenadora institucional Aline Lima e a assessora político-pedagógica Mayã Martins.
Nas fotos, aparecem Mametu Muiande, matriarca do Kilombo Manzo Ngunzo Kaiango, com Pai Lívio, babalorixá do Terreiro das Salinas; Nuala Costa, presidenta da ONG TPM - Todas Para o Mar; Aline Lima, coordenadora do Instituto Pacs e Mayã Martins, assessora do Pacs.
O intercâmbio começou com uma visita à Casa de Caridade Pai Jacob do Oriente (CCPJO), terreiro de umbanda fundado em 1966, que fica no bairro Vila Senhor dos Passos. O grupo foi recebido com um almoço seguido de uma caminhada pelo território que abraça o terreiro, passando pela sede do bloco de rua afro-periférico OriSamba e a casa das Três Marias, onde profissionais da própria comunidade oferecem atendimento em saúde e desenvolvem projetos ligados à medicina natural e agroecologia. Na ocasião, Pai Lívio, Nuala, Aline e Mayã receberam mudas de plantas cultivadas na casa das Três Marias – dentre elas, havia um baobá, árvore de origem africana que é símbolo de resistência e ancestralidade nas religiões de matriz africana.
No segundo dia de intercâmbio, o grupo participou da tradicional Festa de Iemanjá, na Lagoa da Pampulha. O evento é realizado há cerca de 70 anos e em 2019 recebeu o título de patrimônio cultural imaterial de Belo Horizonte. Reconhecimento, ainda que tardio, da resistência e da persistência de dezenas de terreiros e outras coletividades, que ousam ocupar o espaço público, de corpo e alma.
Centenas de pessoas foram até a lagoa, que estava adornada com velas e flores, para levar oferendas à orixá. Depois a festa continuou com uma carreata – durante todo o percurso, Pai Lívio esteve ao lado de outras lideranças religiosas, no carro de som, conduzindo a celebração.
Na ocasião, a coordenadora institucional do Pacs, Aline Lima, também fez uma fala no carro de som, apresentando a Caravana Contra os Racismos Religiosos – iniciativa coletiva que busca percorrer territórios de fé de diversas religiões e regiões, com o objetivo de promover encontros e trocas que alimentem o combate às diferentes formas de expressão do racismo religioso.
No dia seguinte, o intercâmbio seguiu com uma roda de conversa no Kilombo Manzo Ngunzo Kaiango, no bairro Paraíso, onde a comunidade mantém um terreiro de Candomblé e resiste desde a década de 1970, promovendo atividades para valorizar a cultura afro-brasileira. O grupo de visitantes foi recebido com comida de terreiro e o som dos atabaques.
Em seguida, teve início a roda de conversa, na qual também estava presente o Kilombo Família Souza. Os participantes puderam partilhar suas experiências autogestionárias, estratégias de luta e histórias de vida. No fim da roda, houve a exibição de vídeos feitos por Luan Manzo, bisneto de Mametu Muiande e neto de Makota Kidoialê, lideranças e matriarcas do Kilombo Manzo.
Para saber mais, confira o vídeo da roda de conversa AQUI.
Neste dia, os visitantes também foram presenteados, com produtos feitos artesanalmente pela comunidade – sais para escalda pés preparados por Luan e sabonetes concebidos por Mãe Sessiluanvy, que também é matriarca do Kilombo Manzo. No dia seguinte, o intercâmbio foi encerrado, com uma reunião de avaliação e planejamento.
A atividade contou com o apoio das seguintes organizações sem fins lucrativos: Fundação Rosa Luxemburgo, Brot für die welt (Pão para o mundo/PPM) e Dreikönigsaktion – Hilfswerk der Katholischen Jungschar (DKA).